Dizem os livros que a cidade de Atenas herdou esse nome em forma de homenagem à sua deusa Athena, deusa da sabedoria, do ofício, da inteligência e da guerra justa. Athena brindou a cidade com um ramo de oliveira, derrotando assim os seu rival, Posoidon, deus do mar, cujo presente havia sido um jarro com água do mar. As oliveiras proliferam por toda Atenas e trouxeram à cidade a prosperidade e a riqueza que a história testemunha.
Dia 12 de Agosto apanho o avião para me dirigir a Atenas e poder apreciar bem de perto o que há uns anos atrás negligenciei nos livros de História de Arte.
A aproximação à pista faz-se pelo Mediterrâneo com uma breve passagem pela região grega do Polepponeso; ao passo que Atenas fica para trás e a altitude diminui, fico com a sensação de que vamos aterrar num olival, mas o alcatrão lá aparece e o “touch down” é quase perfeito.
De autocarro pela cidade dentro, as primeiras impressões não são as esperadas para uma capital europeia que aderiu à CEE ao mesmo tempo que o nosso querido Portugal. Atenas é suja, com muito pó, o aglomerado de edifícios estende-se de forma desmesurado; nunca lá estive, mas fiquei com a impressão de que estava em Telavive ou Bagdade. Passava quase uma hora após termos apanhado o autocarro, lá chegamos ao centro, a Syntagma para ser mais preciso, uma praça rectangular onde uma aresta é preenchida pelo Parlamento grego. Olho em redor enquanto tiro do bolso um mapa da cidade, localizo-me, localizo o hostel; 3 paragens de metro de distância, temos tempo, seguimos a pé com os trolleys à mão e mochilas às costas. À medida que nos afastamos do centro, o cenário degrada-se e desagrada. Os toldos verdes dos varandins e os edifícios mal conservados aparecem como se de uma mudança de cena se tratasse. Não vejo um risco no chão, não vejo uma passadeira, a confusão do trânsito é caótica, mas mesmo assim o cantar das cigarras sobrepõe-se a tudo o que é audível. Estamos em Omonia, faltam cerca de 500 metros, os 500 metros mais melindrados da nossa passagem nas terras de Sócrates (o antigo). Pareceu-me estar em Lisboa, no Martim Moniz, muitos emigrantes africanos, árabes e outros falam alto, rixam, olha-nos como uma oportunidade, cada rosto é uma potencial ameaça, passa por nós um individuo com a cara recentemente amassada. Não há passadeira mas atravessamos com cuidados mínimos no vermelho, o passo apressado leva-nos rápido ao nosso porto de abrigo.
A exploração de Atenas começou logo que nos livramos da bagagem, seguimos de metro direitos à Acrópole e subimos ao monte Philloppapos, mesmo em frente à Acrópole. Do sopé ao cume são 15 minutos; o cenário arrepia pela monumentalidade da arquitectura com mais de 2500 anos, o que há uns anos ilustrava o livro de História de Arte está ali, à minha frente. O Parténon, o Erecteion e o templo de Athena Nike. No dia seguinte seguimos então à Acrópole propriamente dita, o Teatro de Dionísio é o monumento que nos recebe ainda antes da pequena subida. A vista sobre a cidade não impressiona, continuam os toldos verdes, agora espalhados em forma de pontos por toda Atenas. Algo moderno, moderníssimo, é o novo museu da Acrópole, localizado, claro está, mesmo no sopé da mesma. €1 é muito pouco para o tanto que lá vimos. O tanto que lá vi, presumo eu que os livros também me mostraram, mas lá eu não vi. Os estilos dórico, jónico e corinto fazem agora todo o sentido.
Os nossos três dias em Atenas foram demasiados dias em Atenas. Atenas vale pelo espólio artístico e histórico que alberga e pelos pitorescos bairros de Plaka e Monastiraki onde, com uma sensação bem mais agradável e acolhedora de que a que quando fomos recebidos, podemos escolher um dos muitos restaurantes e apreciar uma Moussaka (uma espécie de empadão mas bem melhor) ou um Baclavá (sobremesa de massa folhada com mel e frutos secos), ou então percorrer as ruas de mercado e comércio onde encontramos Ray-Ban, Valentino, Gucci, Hilfiger, tudo a 10 euros sem a preocupação da veracidade da coisa ou se a ASAE vem aí para fiscalizar.
Seguiu-se Creta, uma viagem de ferry de 7 horas (300Km’s) serviu para relaxar, contemplar a companhia, o mar e o pôr-do-sol no mar Egeu. Viajo no varandim com a máquina fotográfica em punho, deixo para trás as Cíclades, que com muita pena não pudemos visitar. Heraklion, capital cretense, surge já no breu com um aglomerado de luzes no horizonte.
Já desembarcados, apanhamos um táxi com direito a prevaricar duplos traços-continuos e ultrapassagens pela berma (nunca mais me queixo dos condutores portugueses). Um quarto de hora depois estávamos em Piskopiano, pitoresca vila situada na encosta da pequena cidade de Hersonissos. Lá nos esperava o Dolce Fare Niente, com direito a 40ºc, piscina e espreguiçadeira com o mediterrâneo em pano de fundo. Por incrível que pareça, não demos um mergulho no mediterrâneo, a praia era demasiado curta e ocupada com esplanadas e restaurantes, além do que, nas horas mais proveitosas encontravam-se repletas de turistas com o mesmo objectivo que o nosso, com a diferença de que nós não o alcançámos, mas também não nos importamos, o Dolce Fare Niente esperava por nós, e 5 dias de Dolce Fare Niente em Piskopiano não se trocam por uma hora que seja a lutar por um lugar na areia.
Como não há bela sem senão, o dissabor veio no fim, entre apanhar o ferry de volta a Atenas, autocarro, metro e novamente autocarro até ao aeroporto, e mesmo continuando sem saber porquê, perdemos o avião que nos iria trazer de volta ao Porto. Dia extra em Atenas num quarto caríssimo onde com os braços abertos podíamos tocar as extremidades. Chagamos ao Porto no dia seguinte.
Para ilustrar a passagem de um Oliveira na terra das oliveiras, preparei um vídeo que espero que faça chegar até vós uma pequena parte que seja da minha aventura por terras socretinianas (o antigo).
Férias Grécia 2009 from Filipe Oliveira on Vimeo.
Abreijos
Lipinhu
Depois da leitura deste relato, sinto-me um OLIVEIRA mais realizado, pela azeitona produzida.
ResponderEliminarRelembrei os meus tempos de estudante, quando aprendi todas as monumentalidades Gregas, aqui descritas.
Senti-me enlevado com tais descrições, bem como, com o evidente contentamento do escriba.
Bravo
Parabéns, Lipinhu!
ResponderEliminarConseguiste surpreender-nos com esta obra de arte:música excelente, belas paisagens riquíssimas em História, personagens de eleição( casting bem conseguido!) e texto escorreitamente lavrado ( perdoa-se alguma falha na acentuação...)
Afinal as aulas de História da Arte serviram pelo menos para te motivarem a ver "in loco".